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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Sr. e Sra. Oscar


O casal mais badalado da Hollywood contemporânea, Brad Pitt e Angelina Jolie (de Sr. e Sra. Smith), tem muito que comemorar - e eu não estou me referindo aos 6 filhos do casal. Os dois estão vivendo um momento ímpar em suas carreiras e, apesar de já terem participado da cerimônia do Oscar anteriormente (ele já havia concorrido como melhor ator coadjuvante por "Os 12 Macacos", e ela já ganhou o prêmio de coadjuvante por "Garota, Interrompida") irão disputar pela primeira vez este ano o prêmio nas categorias principais.

A união parece ter dado certo. Desde que começaram a andar juntos, Angelina e Brad têm feito escolhas mais maduras em suas carreiras e encarado personagens cada vez mais desafiadores. Ele, por exemplo, demonstrou bastante competência em filmes como "Babel" e "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford" (este último lhe rendeu o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza). Ela, por sua vez, foi bastante elogiada por sua atuação no drama "O Preço da Coragem", pelo qual concorreu pela primeira vez ao Globo de Ouro de melhor atriz na categoria principal.

Agora ambos têm, pela primeira vez (e numa mesma noite), a chance de serem agraciados com o maior prêmio do cinema americano. Ela por sua tocante atuação no drama "A Troca", do veterano Clint Eastwood; ele por encarnar o personagem título de "O Curioso Caso de Benjamin Button", drama fantástico, de proporções épicas, do diretor David Fincher.



A Troca (Changeling)


No filme "A Troca", drama de época baseado em fato verídico, Angelina vive a personagem Christine Collins. Abandonada pelo marido, Christine mora em uma casa do subúrbio de Los Angeles com seu filho Walter, de apenas nove anos, que ela cria com muito zelo e dedicação. Supervisora de uma companhia telefônica, um dia Christine volta para casa e se dá conta de que seu filho desapareceu.

Angustiada, ela contacta imediatamente a polícia, na esperança de que eles encontrem alguma pista do paradeiro de seu filho. O Departamento de Polícia de Los Angeles, no entanto, alvo de severas críticas de corrupção, negligência e abuso de poder - sobretudo por parte do reverendo Gustav (John Malkovich, em boa atuação) - a fim de melhorar sua imagem perante a opinião pública, termina devolvendo a Christine uma criança que não é seu filho.

Para a impressa e leitores em geral, a polícia cumpriu seu dever. Mas para Christine, que não admite a possibilidade do término das buscas, inicia-se aí uma verdadeira disputa de poder, na qual ela terá que enfrentar a ameaçadora polícia local no intuito de reaver seu filho desaparecido.


Angelina Jolie em "A Troca"

A história se desenvolve com grande habilidade. O roteiro é muito bem costurado, mantendo a expectativa pelo que está por vir a todo o momento, e nos surpreendendo por diversas vezes. O filme, que participou da mostra competitiva no Festival de Cannes no ano passado, é extremamente bem acabado, e conta com a classe e a sofisticação próprias de um filme do mestre do cinema clássico, Clint Eastwood (que também compôs a trilha do filme). Direção de arte, figurino e fotografia formam uma tríade impecável, retratando com grande precisão e riqueza de detalhes a bucólica Los Angeles das décadas de 20 e 30.

Já Angelina Jolie tem no filme um dos melhores desempenhos de sua carreira. Sua Christine, quase sempre sob a proteção de um chapéu, é frágil, sensível e elegante. Com seus gestos contidos, destoa muito das personagens de ação a que estamos habituados a ver Angelina atuando. Chega a ser quase impossível não ter empatia por sua personagem e, muito menos, não ficar indignado por todo o martírio a que ela é submetida.

Vale destacar ainda a atuação do desconhecido ator Jason Butler Harner, que impressiona na pele de um esquizofrênico assassino (injustamente ignorado pela crítica e premiações). Sua participação no filme, apesar de ser um tanto breve, acrescenta grande intensidade dramática à trama. Sua interpretação chega a lembrar a do célebre ator Robert Mitchum (que encarnou temíveis personagens em clássicos como "Círculo do Medo" e "O Mensageiro do Diabo)

Além do prêmio de Melhor Atriz para Angelina Jolie, o filme concorre também aos Oscars de Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte.

Confira o trailer do filme:





O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button)

A parceria entre o diretor David Fincher e o ator Brad Pitt já rendeu os ótimos "Seven - Os Sete Crimes Capitais" e "Clube da Luta". A nova empreitada de ambos, "O Curioso Caso de Benjamin Button" é um filme fantástico, de proporções épicas, meticulosamente conduzido por Fincher em todos os seus ricos e preciosos detalhes.

O diretor, aclamado pelo grande público, mas constantemente ignorado pelos júris das premiações, recebe finalmente o seu merecido reconhecimento. Indicado para o Oscar na categoria de melhor direção, seu filme é o recordista de indicações na edição deste ano, somando nada menos do que 13 indicações (apenas uma a menos que os recordistas "Ben Hur" e "Titanic")

Toda essa notável aclamação não é para menos. Seu novo trabalho é impecável, uma pérola de filme em que cada elemento prima pela excelência. A história, baseada na obra homônima de F. Scott Fitzgerald, não é apenas curiosa, como sugere o título, mas extremamente bem contada, e perpassa quase um século de existência humana, avançando e retornando no tempo com enorme destreza (neste sentido, lembra "Forrest Gump - O Contador de Histórias).

A reconstituição de época, com a fotografia, direção de arte e figurinos, também não é nada menos que excepcional. A trilha sonora, composta pelo francês Alexandre Desplat, assim como a maioria das trilhas compostas por ele, é ao mesmo tempo elegante, instigante e mágica. E a maquiagem (talvez o elemento mais notável do filme e o único prêmio que parece garantido) é simplesmente sensacional. É por meio da maquiagem (e uma boa dose de efeitos visuaus) que eles conseguem não apenas fazer com que Brad Pitt tenha a aparência de um idoso de 80 anos, como, surpreendentemente, rejuvenecê-lo, a ponto de fazê-lo parecer um adolescente outra vez.

Brad Pitt em "O Curioso Caso de Benjamin Button"

Mas afinal, o que há de tão curioso no filme que o faz tão especial? Falemos da história: Brad Pitt interpreta Benjamin Button, uma pessoa portadora de um enigmático distúrbio biológico que o faz nascer com a aparência de um velho de 80 anos. À medida em que o velho bebê vai crescendo, ele vai rejuvenescendo, contrariando todas as previsões de que o pequeno Button morreria precocemente.

Sua fascinante história começa no final da primeira guerra (quando Button nasce) e segue até quase os dias de hoje - a história é narrada por uma paciente moribunda, deitada no leito de um hospital, no ano de 2005, quando o terrível furacão Katrina devastou a cidade de New Orleans (o filme presta, aliás, uma bela homenagem aos mortos do incidente).

Ao longo de sua existência, bem como todos nós, Benjamin Button conhece uma grande diversidade de pessoas. Mas enquanto os outros envelhecem e morrem, Benjamin sente-se cada vez mais revigorado e tem que aprender a lidar com a infortúnio de ver os entes queridos morrerem enquanto ele sobrevive, fruto da sua condição (neste sentido, a história nos remete a um outro filme: "À Espera de Um Milagre").

De todas as pessoas que Benjamin conhece ao longo de sua vida, as duas mais marcantes, à exceção de sua mãe adotiva, são sem dúvida, seus dois amores. A primeira delas, uma mulher casada e solitária (bela atuação de Tilda Swinton) que Button conhece enquanto vive um tempo na Rússia. A segunda, seu grande amor Daisy (a sempre ótima Cate Blanchett, que já havia contracenado com Pitt em "Babel"), que Benjamin conhece quando criança, apaixona-se à primeira vista, e que o acompanhará por toda sua vida.

Brad Pitt demonstra bastante maturidade dramática e repete em "O Curioso Caso..." uma linha de atuação mais contida que vem dando certo em seus últimos filmes, como "Babel" e "O Assassinato de Jesse James...". É bem verdade que a maquiagem ajuda, e muito, a composição do personagem. Mas justiça seja feita, há um empenho grande por parte de Brad, tanto em termos de trabalho de voz quanto corporal, para conferir verossimilhança ao personagem em cada estágio de sua vida.

"O Curioso Caso de Benjamin Button" é um filme bastante poético, que dá margem a várias reflexões filosóficas a respeito da vida. Temas como o envelhecimento, a morte e o amor são recorrentes no filme. Mas é o tempo o principal objeto de análise do filme (é emblemática, por exemplo, a presença de um relógio cujo ponteiro gira em sentido anti-horário). Por falar em tempo, se existe uma ressalva que merece ser feita em relação a obra de David Fincher, talvez seja quanto a sua duração. O filme, que tem proporções épicas, é um tanto longo demais, assim como os já citados "Forrest Gump" e "A Espera de Um Milagre". Mas nada que diminua o seu enorme brilhantismo. Afinal, ao assiti-lo, tudo que queremos saber é onde essa fantástica história vai parar, não importa o quanto tenhamos que esperar pelos ponteiros do relógio.

Confira o trailer do filme:


terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Duas Vezes Winslet



Ser indicada duas vezes para uma mesma premiação já deixou de ser novidade para uma atriz em Hollywood, tanto no Globo de Ouro quanto no Oscar.

Lembremos, por exemplo, da brilhante atriz Julianne Moore, que na edição do Oscar de 2003 concorreu tanto ao prêmio de melhor atriz principal quanto ao de atriz coadjuvante, por suas comoventes atuações nos dramas "Longe do Paraíso" e "As Horas", respectivamente; mas que, lamentavelmente, acabou não ganhando nenhum.

Outras, por sua vez, tiveram um pouco mais de sorte, e foram contempladas com pelo menos um dos dois prêmios a que concorria, a exemplo de Meryl Streep, que naquele mesmo ano, concorria aos Globos de Ouro de atriz e atriz coadjuvante por "As Horas" e "Adaptação", respectivamente (este último lhe valeu o prêmio).

A conquista de ambos os prêmios, no entanto, é um fato histórico, até então sem precedentes na história das premiações cinematográficas.


Kate Winslet em "The Reader"


A proeza coube à talentosa atriz britânica Kate Winslet, que na mais recente edição do Globo de Ouro, ocorrida no último domingo, angariou ambos os prêmios numa só noite, melhor atriz coadjuvante por "The Reader" e melhor atriz por "Apenas Um Sonho ", ambos os filmes inéditos no Brasil.

A bela e talentosa atriz de "Titanic", "Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças" e "Pecados Íntimos", dentre outros, vinha fazendo campanha para ser indicada por ambos os filmes ao passo que acumulava críticas bastante elogiosas pelos dois trabalhos.

Tudo parecia indicar que este seria mesmo o ano de Kate Winslet, afinal de contas são dois papéis de peso e grande carga dramática: o de uma alemã que esconde um passado secreto em "The Reader", e o de uma esposa que enfrenta problemas no matrimônio em "Apenas Um Sonho".

O difícil parecia escolher por qual filme Kate deveria concorrer como melhor atriz, já que, segundo a crítica especializada, ela tem um desempenho estupendo em ambos os filmes, e não poderia concorrer com si mesma numa só categoria.

Kate Winslet em "Apenas um Sonho"


A solução partiu da própria Kate, que não hesitou em dizer que preferia ser indicada por "Apenas um Sonho", já que o filme é dirigido por seu marido, o diretor Sam Mendes (Beleza Americana) e retoma a parceria em cena com seu antigo par romântico, Leonardo di Caprio (Titanic).

Sendo assim, sua atuação em "The Reader", do diretor Stephen Daldry (As Horas), acabou sendo submetida à categoria de atriz coadjuvante, o que gerou certa insatisfação por parte da crítica que defendia que ela era protagonista do filme e não coadjuvante.

Controvérsias à parte, o fato é que a estratégia deu certo e a atriz, que já havia concorrido a cinco Globos de Ouro, mas nunca havia levado nenhum pra casa, acabou ficando com dois numa só noite!

Nem ela mesma parecia acreditar. No primeiro discurso de agradecimento, pediu desculpas pelo embaraço dizendo: "eu tenho o hábito de não ganhar". Já no segundo, perdeu a fala, esqueceu o nome de uma das concorrentes - Angelina Jolie - e logo depois, na coletiva de impressa, afirmou que tinha certeza de que Anne Hathaway levaria o prêmio)

A pergunta que fica é: será que foi merecido? Afinal de contas, Kate desbancou numa só noite outras oito atrizes de peso. A resposta: muito provavelmente, sim. Kate Winslet já mostrou que tem poder de fogo para encarnar com competência os mais diversos papéis e vem se consagrando como uma das atrizes mais talentosas de sua geração.

Agora é só aguardar as estréias no Brasil de "The Reader" e "Apenas um Sonho" para conferirmos suas premiadas atuações, bem como a cerimônia do Oscar, no próximo mês, para ver se ela irá repetir a proeza. Afinal, quem disse que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar?

Confira abaixo os discursos de agradecimento de Kate Winslet: