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quarta-feira, 14 de maio de 2008

Palmas para o Brasil

Começa hoje o 61º Festival Internacional de Cannes e o Brasil marca presença na mostra competitiva com duas produções: "Linha de Passe", de Walter Salles e Daniela Thomas, produção genuinamente brasileira, e "Blindness" (que abre o festival), co-produção entre Brasil, Canadá e Japão, dirigida por Fernando Meirelles e baseada na obra "Ensaio Sobre a Cegueira", do vencedor do Prêmio Nobel da Literatura, José Saramago.

Quem sabe depois da consagração de "Tropa de Elite" no último Festival de Berlim o Brasil não volta a brilhar também na velha Croisette? (a última vitória do Brasil em Cannes foi em 1962 com "O Pagador de Promessas")

Dentre os concorrentes à Palma de Ouro deste ano figuram nomes de peso já consagrados em edições anteriores, como os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne ("Rosetta" e "A Criança"), Steven Soderbergh ("Sexo, Mentiras e Videotapes") e Wim Wenders ("Paris, Texas"); velhos veteranos como Clint Eastwood ("Sobre Meninos e Lobos") e Atom Egoyan ("O Doce Amanhã"), e nomes em franca ascensão como a argentina Lucrecia Martel ("A Menina Santa").

Destaque para a estréia de Charlie Kaufman - o genial roteirista de filmes como "Quero Ser John Malkovich", "Adaptação" e "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" - como diretor, com o filme "Synecdoche New York", que integra a seleção oficial do festival.

Fora da competição serão exibidos a esperada aventura "Indiana Jones e a Caveira de Cristal", de Steven Spielberg, o documentário "Maradona", de Emir Kusturica, e "Vicky Cristine Barcelona", mais novo filme de Woody Allen, rodado na Espanha com os atores Javier Bardem, Penélope Cruz e Scarlett Johansson.

Já na Mostra "Un Certain Regard" (Um Certo Olhar), dedicada a diretores estreantes, o destaque brasileiro será "A Festa da Menina Morta", que marca a estréia do ator Matheus Nachtergaele como diretor e roteirista.

O 61º Festival Internacional de Cannes encerra no domingo, dia 25.


Confira abaixo a lista completa da mostra competitiva com links informativos:

Adoration (2008) - Atom Egoyan
Argentine, The (2008) - Steven Soderbergh
Blindness (2008) - Fernando Meirelles (I)
Changeling (2008/I) - Clint Eastwood
Delta (2008) - Kornél Mundruczó
Divo, Il (2008) - Paolo Sorrentino
Entre les murs (2008) - Laurent Cantet
Er shi si cheng ji (2008) - Zhang Ke Jia
Frontière de l'aube, La (2008) - Philippe Garrel
Gomorra (2008) - Matteo Garrone
Leonera (2008) - Pablo Trapero
Linha de Passe (2008) - Walter Salles; Daniela Thomas (I)
Mujer sin cabeza, La (2008) - Lucrecia Martel
My Magic (2008) - Eric Khoo
Palermo Shooting (2008) - Wim Wenders
Serbis (2008) - Brillante Mendoza
Silence de Lorna, Le (2008) - Jean-Pierre Dardenne; Luc Dardenne
Synecdoche, New York (2008) - Charlie Kaufman
Two Lovers (2008) - James Gray (I)
Un conte de Noël (2008) - Arnaud Desplechin
Waltz with Bashir (2008) - Ari Folman
Üç Maymun (2008) - Nuri Bilge Ceylan

domingo, 6 de abril de 2008

A Eterna Malvada


A atriz Bette Davis, uma das maiores divas do cinema, eternizada em filmes como "Jezebel" (1938), "A Malvada" (1950) e "O Que terá Acontecido a Baby Jane?" (1962), dentre muitos outros trabalhos, completaria ontem 100 anos.

Para celebrar o centenário desta extraordinária atriz de talento ilimitado, que ficou marcada por personagens de temperamento forte (em geral megeras indomadas), segue um pequeno clipe com alguns de seus melhores momentos no cinema. Um deleite para os fãs da eterna malvada e para todos os amantes da sétima arte.

p.s: a música que acompanha o clipe é a canção "Bette Davis Eyes", que virou sucesso na década de 80 na voz da cantora Kim Carnes. Com certeza você já ouviu.

quarta-feira, 19 de março de 2008

O Talentoso Anthony Minghella


O cinema perdeu ontem um dos diretores mais humanistas da contemporaneidade. O talentoso diretor e roteirista inglês, descendente de italianos, Anthony Minghella (vencedor do Oscar, em 1997, pelo épico romântico “O Paciente Inglês”), morreu na madrugada de ontem, aos 54 anos, vítima de uma hemorragia cerebral, durante uma operação para retirada de abscesso do pescoço, em Londres.

Mr. Minghella, que começou escrevendo roteiros para a televisão britânica, teve passagem também pelo teatro e estreou no cinema com o romance fantasma “Truly, Madly, Deeply” (1990), que lhe rendeu logo de primeira o prêmio Bafta de melhor roteiro original e o lançou no mercado cinematográfico.

Em seguida realizou o romance indie “Mr. Wonderful” (1993), estrelado por Matt Dillon, com pouca repercussão. Mas seria em 1996, quando adaptou para as telas de cinema o romance “O Paciente Inglês” (The English Patient), que Minghella atingiria, já no seu terceiro filme, o auge de sua carreira.


Baseado da obra de Michael Ondaatje, este épico anti-belicista, estrelado por Ralph Fiennes, Christin Scott Thomas e Juliette Binoche, é, sem dúvida, o melhor trabalho de Minghella. O filme (ostensivamente subestimado por uma legião de impacientes, ingleses ou não) consiste numa obra primorosa e talvez seja o filme mais genuinamente romântico da história do cinema, com imagens de uma beleza cada vez mais rara e uma história que transpira calor humano.

Aclamado pela crítica, a produção, vencedora de 9 Oscars (incluindo Melhor Filme), rendeu a Minghella, em 1997, o prêmio de melhor diretor, e entrou para a história como o primeiro filme independente (a Miramax se encarregou apenas da distribuição) - e também o primeiro montado em equipamento digital (edição não-linear) - a receber o prêmio máximo da Academia.

O filme se notabilizou ainda por ter possibilitado à atriz francesa Juliette Binoche realizar um de seus melhores trabalhos, consolidando sua ascensão em Hollywood. Foi graças a sua comovente atuação como a sensível enfermeira Hana, que Juliette conquistou não apenas o Oscar de melhor atriz coadjuvante, como também o Urso de Prata de melhor atriz no prestigiado Festival de Berlim.

Juliette Binoche como Hana, em "O Paciente Inglês" (1996)


Já no ano de 1999, Anthony Minghella voltaria a ser elogiado pela crítica, dessa vez pelo ótimo “O Talentoso Ripley” (The Talented Mr. Ripley), estrelado por Matt Damon, Jude Law e Gwyneth Paltrow, e contando ainda com nomes como Cate Blanchett e Phillip Seymour Hoffman, em franca ascensão.

Ao adaptar a obra da escritora americana Patricia Highsmith, Minghella foi além da trama policial e acabou criando uma obra virtuosa e inteligente sobre a recusa da sexualidade por parte de seu atormentado personagem-título, em meio a deslumbrantes paisagens italianas, a vitalidade do jazz e a melancolia do blues.

Sobre o filme, Minghella diz: "Imagino que todos saibamos como é sentir-se excluído. Nós talvez até tenhamos fingido ser alguém que não somos para sermos aceitos ou bem-sucedidos. Essa é uma das coisas que nos fazem seres humanos, e a percepção disto é que nos faz ver Ripley como tal. Essa ligação desconcertante com Tom Ripley, um dos personagens mais incríveis da ficção, e a ansiedade gerada pela familiaridade, pelo menos em pesadelo, do que acontece com ele, me moveu a fazer este filme".

"O Talentoso Ripley" foi indicado a 5 Oscars (incluindo melhor roteiro adaptado para Minghella) e colocou Jude Law definitivamente entre os atores mais talentosos de sua geração.


Jude Law e Matt Damon em "O Talentoso Ripley" (1999)


Em 2003, Minghella transpôs para as telas mais uma adaptação literária: “Cold Mountain”, baseado na obra de Charles Frazier, um romance que tem como pano de fundo a guerra civil norte-americana. O filme teve uma recepção bastante morna pela crítica (apesar dos esforços da poderosa Miramax em tentar vendê-lo como um novo “E o Vento Levou”) e acabou deixando Minghella, e seu filme, fora da disputa ao Oscar.

O fato é que, apesar de sua inegável excelência técnica; e da quantidade expressiva de atores de peso como Nicole Kidman, Jude Law, Renée Zellweger, Phillip Seymour Hoffman, Donald Sutherland e Natalie Portman; a história de amor retratada no filme não chega a convencer plenamente (muitos apontaram a falta de química entre Nicole Kidman e Jude Law como responsável) e está longe de ser tão bem desenvolvida quanto o romance entre os personagens de Ralph Fiennes e Christin Scott Thomas em “O Paciente Inglês”.

Ainda assim, “Cold Mountain” recebeu 7 indicações ao Oscar (a maioria delas técnicas) e consagrou a admirável atuação de Renée Zellweger como melhor do ano na categoria de atriz coadjuvante.


Renée Zellweger e Nicole Kidman em "Cold Mountain" (2003)


Seu último filme nos cinemas acabou sendo “Invasão de Domicílio” (Breaking and Entering, 2006), que reune dois de seus mais queridos atores do passado, Jude Law e Juliette Binoche, numa trama bastante modesta (dessa vez com roteiro original) para quem já estava habituado aos dramas épicos e grandes adaptações literárias.

Na última década exerceu também a função de produtor executivo em produções como “Iris” (2001), “O Americano Tranquilo” (2002), “A Intérprete” (2005) e o recém indicado ao Oscar “Conduta de Risco” (2007); além de atuar como presidente do Instituto Britânico de Filmes defendendo o fomento à industria britânica de cinema.

No ano anterior, faria ainda sua única aparição como ator num filme, como um entrevistador, no premiado “Desejo e Reparação” (2007).

O diretor acabou de finalizar o episódio piloto da série de televisão “Agência Nº1 de Mulheres Detetives”, cuja estréia está prevista para o próximo domingo no canal BBC. Ele morreu enquanto terminava de realizar um dos curtas do projeto coletivo “New York, I Love You”, em homenagem à big apple, e pretendia realizar este ano mais uma adaptação literária, “The Ninth Life of Luis Drax”, baseado na obra de Liz Jensen.

Dentre as parcerias que Anthony Minghella estabeleceu ao longo de sua carreira, destacam-se as colaborações com o produtor e também diretor Sidney Pollack, o montador Walter Murch, o fotógrafo John Seale, e, em especial (Minghella prezava muito a música em seus filmes), com o músico Gabriel Yared, cuja parceria com o diretor lhe rendeu suas três indicações ao Oscar e o prêmio pela encantadora trilha de “O Paciente Inglês”.


Confira o trailer de "O Paciente Inglês":

segunda-feira, 10 de março de 2008

Ópera de Sangue



Histórias de vingança são tão antigas quanto a própria história da humanidade. Na sétima arte não poderia ser diferente, e volta e meia o velho personagem com sede de vingança dá o ar de sua graça (ou seria desgraça?) nas telas de cinema.

Em “Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet” (Estados Unidos, 2007), o mais novo filme do diretor Tim Burton (Ed Wood), Johnny Depp (em mais um de seus personagens esquisitos) troca as tesouras do já clássico "Edward Mãos de Tesoura" (1990) pelas navalhas, ao encarnar Sweeney Todd, um funesto barbeiro que retorna a Londres após 15 anos de reclusão em que esteve encarcerado vítima de uma falsa acusação.

Naquela época, Sweeney era Benjamin Barker, um homem comum que vivia feliz ao lado de sua bela mulher Lucy, até ser condenado injustamente pelo ganancioso juiz Turpin (Alan Rickman), que a cobiçava.

Agora, transformado num homem sombrio e amargurado, tudo que Sweeney quer é se vingar dos responsáveis pelo seu infortúnio, em particular, o Juiz Turpin, que mantém refém a filha adolescente de Todd.




Sweeney vai até a velha casa na Rua Fleet que abrigava sua antiga barbearia e lá encontra a Sra. Lovett (Helena Bohma Carter), uma melancólica viúva empenhada em fabricar as piores tortas de Londres, na fétida torteria que funciona no térreo do soturno casarão.

Sweeney volta a trabalhar como barbeiro no andar de cima, e com auxilio da Sra. Lovett, que nutre por ele grande admiração, começa a por em prática seus planos de vingança.

Mas enquanto a oportunidade certa não chega, Sweeney vai praticando suas habilidades, degolando um a um todos os seus clientes numa sucessão de imagens sangrentas. Mas o que fazer com os corpos das vítimas? Eis aí o aspecto, digamos, mais “saboroso” da trama (e também o mais macabro, se lembrarmos que a história realmente ocorreu na antiga Londres).




Baseado num espetáculo da Broadway, o filme (vencedor do Globo de Ouro de Melhor Musical ou Comédia) é um misto de musical e terror, e faz bom uso dos ingredientes desses dois gêneros, aparentemente tão díspares, com direito ao requinte técnico habitual de mais uma obra da grife Tim Burton.

A direção de arte do filme consiste num espetáculo à parte, recriando com maestria os cenários de uma velha e cinzenta Londres do século XIX, em grande parte através de cenários reais, mas também com o auxílio da computação gráfica em seqüências que lembram bastante a recriação do boêmio e decadente bairro de Montmartre, em Paris, do musical Moulin Rouge! (2001).

O mérito é do italiano Dante Ferretti - antigo colaborador de cineastas como Federico Fellini (E La Nave Va) e Martin Scorsese (O Aviador) - que com seu primoroso trabalho em “Sweeney Todd”, acaba de conquistar seu segundo Oscar.

No que diz respeito ao elenco, Johnny Depp canta e representa com a mesma desenvoltura com que seu personagem empunha a navalha e executa suas vítimas. Já Helena Boham Carter (que é casada com o diretor e quase sempre é presenteada com uma personagem que parece ter sido escrita especialmente para ela) tem também uma atuação notável na pálida pele, de aparência quase cadavérica, da Sra. Lovett.



Não se trata, no entanto, de um grande filme (nem sequer é o melhor de Tim Burton), apesar das pretensões operísticas e do desenlace da estória nos remeter às clássicas tragédias gregas. Não existem canções inesquecíveis (estas cumprem uma função prioritariamente narrativa) e a trama é um tanto quanto previsível, deixando algumas perguntas sem resposta, como qual foi a acusação que fez Sweeney Tood ser preso, ou que fim levou dois dos personagens secundários.

O filme resulta, porém, num bom entretenimento e consiste, sem dúvida, num prato cheio (regado a muito sangue) para aqueles que têm estômago forte e não resistem ao delicioso sabor da vingança.


Confira o trailer do filme:


sábado, 8 de março de 2008

Um Hino às Mulheres


Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, e a todas as mulheres, ofereço-lhes um trecho do filme "Piaf - Um Hino ao Amor" (França, 2007), cinebiografia dessa mulher extraordinária, que foi a cantora Edith Piaf, em interpretação magistral da talentosa (e agora multipremiada) atriz francesa Marion Cotillard.

Para aqueles que ainda não assistiram a esse magnífico filme - que é um verdadeiro ode ao amor, à arte e à vida - sugiro que aproveitem seu merecido retorno às telas de cinema. (O filme já se encontra disponível também nas locadoras).

Com vocês, Edith Piaf:


segunda-feira, 3 de março de 2008

O Oscar em tempos de globalização


O Oscar do ano passado foi marcado pela expressiva participação dos hispano-descendentes, em especial os mexicanos, que dominaram as indicações, e consolidou a ascensão em Hollywood dos três amigos cineastas, compatriotas mexicanos, Alejandro González Iñárritu, Guillermo del Toro e Alfonso Cuarón, representados na noite da premiação por seus mais recentes filmes (o contundente “Babel”, o fantástico “O Labirinto do Fauno” e o virtuoso “Filhos da Esperança”, respectivamente)

A cerimônia deste ano foi ainda mais adiante e atravessou o oceano. Numa premiação que parecia preparada a meses de antecedência para consagrar uma das duplas mais criativas do cinema americano (os irreverentes irmãos Joel e Ethan Coen, do premiado “Onde os Fracos Não Têm Vez”), foram os europeus que roubaram a cena.

A noite que celebrava os 80 anos do mais famoso prêmio do cinema consagrou quatro atores nascidos fora dos Estados Unidos, um feito que não se repetia desde a cerimônia de 1965, quando os ingleses Julie Andrews, Rex Harrison e Peter Ustinov; e a russa Lila Kedrova, foram eleitos vencedores.

Dentre os eleitos deste ano, dois são ingleses: Daniel Day-Lewis (melhor ator por “Sangue Negro”) e Tilda Swinton (melhor atriz coadjuvante por “Conduta de Risco”). A francesa Marion Cotillard (“Piaf – Um Hino ao Amor”) foi a segunda atriz estrangeira a receber a estatueta por uma atuação em outro idioma que não o inglês (a primeira foi a italiana Sophia Loren, em 1962, por sua atuação em “Duas Mulheres”, de Vittorio de Sica). Já Javier Bardem entrou para a história como o primeiro ator espanhol a receber um prêmio da Academia.

Também boa parte dos prêmios técnicos foi para terras bem distantes de Hollywood. Dario Marianelli (vencedor do prêmio de melhor Trilha Sonora Original por “Desejo e Reparação”) é italiano; Didier Lavergne e Jan Archibald (melhor maquiagem por “Piaf – Um Hino ao Amor”) são franceses; Dante Ferreti (melhor direção de arte por “Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”) também é italiano; e os músicos Glen Hansard e Markéta Irglová (melhor canção pelo filme “Once”) são irlandês e tcheca, respectivamente.



Todo esse reconhecimento multinacional é reflexo de novos tempos em Hollywood, onde cada vez mais estrangeiros, dos mais diversos ramos, são requisitados para trabalhar em produções americanas e co-produções internacionais, funcionando como um sopro de renovação em face a um certo desgaste em que se encontra a milionária indústria norte-americana de cinema.

O próprio Brasil tem exportado talentos como os diretores Walter Salles (Diários de Motocicleta), Fernando Meirelles (O Jardineiro Fiel) e Carlos Saldanha (A Era do Gelo); os atores Fernanda Montenegro (O Amor nos Tempos do Cólera), Rodrigo Santoro (300) e Alice Braga (Eu Sou a Lenda); além de inúmeros técnicos como os diretores de fotografia Affonso Beato (A Rainha) e César Charlone (O Jardineiro Fiel), e o compositor de trilhas Antonio Pinto (O Amor nos Tempos do Cólera).

O fato é que o Oscar, que sempre foi tido como um prêmio do “cinemão” americano, começa a ganhar contornos de premiação internacional, dando, a cada ano que passa, maior visibilidade e projeção para artistas e produções de diversas nacionalidades.

Resta saber quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, responsável pela premiação, dará o braço a torcer e reconhecerá que um filme estrangeiro pode ser (e não raramente é) melhor do que até mesmo os melhores filmes americanos do ano.



Confira o discurso de agradecimento do ator espanhol Javier Bardem:

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Poesia da Desilusão


Um dos melhores filmes do ano passado talvez seja também um dos menos vistos. Depois de uma modesta passagem pelos cinemas americanos, “O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford” (Estados Unidos, 2007) chegou às telas brasileiras tão sorrateiro quanto um gatuno do velho oeste, ocupando parcas salas de exibição, em geral tão ermas quanto as cidades fantasmas dos clássicos filmes de faroeste.

O longa do diretor neozelandês Andrew Dominik faz parte de uma nova safra de filmes que resgatam às telas o lendário Oeste americano (de ontem e de hoje) a exemplo de “Onde os Fracos Não Têm Vez”, dos irmãos Coen, e a refilmagem “Os Indomáveis”, de James Mangold.

Mas rotular “O Assassinato de Jesse James” como um filme de faroeste, pura e simplesmente, seria subestimar a sua magnitude, pois o filme é muito mais um drama psicológico, um ensaio poético sobre a desilusão, do que a história de um herói e um vilão à espera do duelo final.

Até porque não existem heróis e vilões na obra adaptada do livro homônimo do escritor Ron Hansen, e o que o filme nos oferece em termos de ação é quase nada se comparado aos tradicionais filmes de faroeste.

Em vez disso, o que vemos são quase três horas de pura poesia traduzidas com maestria numa profusão de imagens repletas de lirismo pelo renomado diretor de fotografia Roger Deakins (mais conhecido pela parceria com os irmãos Coen).

Entre vastos e bucólicos panoramas, e closes intimistas, Deakings parece capturar a essência dos personagens com sua câmera, lançando mão de uma fotografia muitas vezes difusa, seja em meio à névoa, na penumbra da noite ou através da refração de uma simples janela.

No filme, Brad Pitt é Jesse James, lendário bandido do século XIX, temido por muitos e admirado por outros. Procurado pela polícia, Jesse é visto por alguns como um herói a la Robin Hood.


Um de seus mais ardorosos fãs é o jovem Robert Ford (Casey Affleck). Colecionador de histórias sobre as aventuras do bandido Jesse James e seus comparsas, ele decide procurar pessoalmente o fora-da-lei e se juntar ao bando.

O que começa como uma relação de amizade vai ganhando contornos de rivalidade à medida em que o jovem Ford se apercebe do lado humano (e conseqüentemente vulnerável) de seu ídolo; e o desencanto emerge em meio à ambição de se tornar tão conhecido quanto o notório bandido.

Brad Pitt tem no papel-título um dos desempenhos mais competentes de sua carreira (não por acaso foi consagrado Melhor Ator no último Festival de Veneza). Mas é Casey Affleck, como o “covarde” Robert Ford, quem toma de assalto cada cena do filme, numa das atuações mais sublimes e comoventes dos últimos anos.


Repleto de sutilezas, o irmão mais novo de Ben Affleck nos brinda em cada aparição com uma atuação vigorosa que oscila entre a admiração e a inveja, a esperança e o desencanto, o amor e o ódio por Jesse James.

O duelo entre os personagens se dá internamente, pontuada por silêncios, e é através dos olhares do personagem de Affleck, e sua voz embargada, quase emudecida, que a história ganha corpo e alma. (a atuação lhe rendeu indicações aos mais diversos prêmios internacionais, incluindo o Oscar para melhor ator coadjuvante).

Finalmente, vale destacar a bela trilha sonora composta pelo renomado cantor australiano Nick Cave e seu colaborador Warren Ellis. Minimalista, a trilha preenche com precisão as quase três horas de projeção, dando a medida exata de melancolia e encantamento ao filme.

O resultado geral é uma das obras mais belas e pungentes deste novo século do cinema, que mergulha de forma passional nos desvãos da alma humana; e que funciona ainda como parábola para a controversa indústria da fama, em que criminosos são alçados a celebridades e verdadeiros heróis são relegados ao esquecimento, ou mesmo tidos como covardes.


Confira o trailer do filme: