PARA QUEM VÊ, OUVE E RESPIRA CINEMA.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Ópera de Sangue



Histórias de vingança são tão antigas quanto a própria história da humanidade. Na sétima arte não poderia ser diferente, e volta e meia o velho personagem com sede de vingança dá o ar de sua graça (ou seria desgraça?) nas telas de cinema.

Em “Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet” (Estados Unidos, 2007), o mais novo filme do diretor Tim Burton (Ed Wood), Johnny Depp (em mais um de seus personagens esquisitos) troca as tesouras do já clássico "Edward Mãos de Tesoura" (1990) pelas navalhas, ao encarnar Sweeney Todd, um funesto barbeiro que retorna a Londres após 15 anos de reclusão em que esteve encarcerado vítima de uma falsa acusação.

Naquela época, Sweeney era Benjamin Barker, um homem comum que vivia feliz ao lado de sua bela mulher Lucy, até ser condenado injustamente pelo ganancioso juiz Turpin (Alan Rickman), que a cobiçava.

Agora, transformado num homem sombrio e amargurado, tudo que Sweeney quer é se vingar dos responsáveis pelo seu infortúnio, em particular, o Juiz Turpin, que mantém refém a filha adolescente de Todd.




Sweeney vai até a velha casa na Rua Fleet que abrigava sua antiga barbearia e lá encontra a Sra. Lovett (Helena Bohma Carter), uma melancólica viúva empenhada em fabricar as piores tortas de Londres, na fétida torteria que funciona no térreo do soturno casarão.

Sweeney volta a trabalhar como barbeiro no andar de cima, e com auxilio da Sra. Lovett, que nutre por ele grande admiração, começa a por em prática seus planos de vingança.

Mas enquanto a oportunidade certa não chega, Sweeney vai praticando suas habilidades, degolando um a um todos os seus clientes numa sucessão de imagens sangrentas. Mas o que fazer com os corpos das vítimas? Eis aí o aspecto, digamos, mais “saboroso” da trama (e também o mais macabro, se lembrarmos que a história realmente ocorreu na antiga Londres).




Baseado num espetáculo da Broadway, o filme (vencedor do Globo de Ouro de Melhor Musical ou Comédia) é um misto de musical e terror, e faz bom uso dos ingredientes desses dois gêneros, aparentemente tão díspares, com direito ao requinte técnico habitual de mais uma obra da grife Tim Burton.

A direção de arte do filme consiste num espetáculo à parte, recriando com maestria os cenários de uma velha e cinzenta Londres do século XIX, em grande parte através de cenários reais, mas também com o auxílio da computação gráfica em seqüências que lembram bastante a recriação do boêmio e decadente bairro de Montmartre, em Paris, do musical Moulin Rouge! (2001).

O mérito é do italiano Dante Ferretti - antigo colaborador de cineastas como Federico Fellini (E La Nave Va) e Martin Scorsese (O Aviador) - que com seu primoroso trabalho em “Sweeney Todd”, acaba de conquistar seu segundo Oscar.

No que diz respeito ao elenco, Johnny Depp canta e representa com a mesma desenvoltura com que seu personagem empunha a navalha e executa suas vítimas. Já Helena Boham Carter (que é casada com o diretor e quase sempre é presenteada com uma personagem que parece ter sido escrita especialmente para ela) tem também uma atuação notável na pálida pele, de aparência quase cadavérica, da Sra. Lovett.



Não se trata, no entanto, de um grande filme (nem sequer é o melhor de Tim Burton), apesar das pretensões operísticas e do desenlace da estória nos remeter às clássicas tragédias gregas. Não existem canções inesquecíveis (estas cumprem uma função prioritariamente narrativa) e a trama é um tanto quanto previsível, deixando algumas perguntas sem resposta, como qual foi a acusação que fez Sweeney Tood ser preso, ou que fim levou dois dos personagens secundários.

O filme resulta, porém, num bom entretenimento e consiste, sem dúvida, num prato cheio (regado a muito sangue) para aqueles que têm estômago forte e não resistem ao delicioso sabor da vingança.


Confira o trailer do filme:


Nenhum comentário: