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segunda-feira, 3 de março de 2008

O Oscar em tempos de globalização


O Oscar do ano passado foi marcado pela expressiva participação dos hispano-descendentes, em especial os mexicanos, que dominaram as indicações, e consolidou a ascensão em Hollywood dos três amigos cineastas, compatriotas mexicanos, Alejandro González Iñárritu, Guillermo del Toro e Alfonso Cuarón, representados na noite da premiação por seus mais recentes filmes (o contundente “Babel”, o fantástico “O Labirinto do Fauno” e o virtuoso “Filhos da Esperança”, respectivamente)

A cerimônia deste ano foi ainda mais adiante e atravessou o oceano. Numa premiação que parecia preparada a meses de antecedência para consagrar uma das duplas mais criativas do cinema americano (os irreverentes irmãos Joel e Ethan Coen, do premiado “Onde os Fracos Não Têm Vez”), foram os europeus que roubaram a cena.

A noite que celebrava os 80 anos do mais famoso prêmio do cinema consagrou quatro atores nascidos fora dos Estados Unidos, um feito que não se repetia desde a cerimônia de 1965, quando os ingleses Julie Andrews, Rex Harrison e Peter Ustinov; e a russa Lila Kedrova, foram eleitos vencedores.

Dentre os eleitos deste ano, dois são ingleses: Daniel Day-Lewis (melhor ator por “Sangue Negro”) e Tilda Swinton (melhor atriz coadjuvante por “Conduta de Risco”). A francesa Marion Cotillard (“Piaf – Um Hino ao Amor”) foi a segunda atriz estrangeira a receber a estatueta por uma atuação em outro idioma que não o inglês (a primeira foi a italiana Sophia Loren, em 1962, por sua atuação em “Duas Mulheres”, de Vittorio de Sica). Já Javier Bardem entrou para a história como o primeiro ator espanhol a receber um prêmio da Academia.

Também boa parte dos prêmios técnicos foi para terras bem distantes de Hollywood. Dario Marianelli (vencedor do prêmio de melhor Trilha Sonora Original por “Desejo e Reparação”) é italiano; Didier Lavergne e Jan Archibald (melhor maquiagem por “Piaf – Um Hino ao Amor”) são franceses; Dante Ferreti (melhor direção de arte por “Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”) também é italiano; e os músicos Glen Hansard e Markéta Irglová (melhor canção pelo filme “Once”) são irlandês e tcheca, respectivamente.



Todo esse reconhecimento multinacional é reflexo de novos tempos em Hollywood, onde cada vez mais estrangeiros, dos mais diversos ramos, são requisitados para trabalhar em produções americanas e co-produções internacionais, funcionando como um sopro de renovação em face a um certo desgaste em que se encontra a milionária indústria norte-americana de cinema.

O próprio Brasil tem exportado talentos como os diretores Walter Salles (Diários de Motocicleta), Fernando Meirelles (O Jardineiro Fiel) e Carlos Saldanha (A Era do Gelo); os atores Fernanda Montenegro (O Amor nos Tempos do Cólera), Rodrigo Santoro (300) e Alice Braga (Eu Sou a Lenda); além de inúmeros técnicos como os diretores de fotografia Affonso Beato (A Rainha) e César Charlone (O Jardineiro Fiel), e o compositor de trilhas Antonio Pinto (O Amor nos Tempos do Cólera).

O fato é que o Oscar, que sempre foi tido como um prêmio do “cinemão” americano, começa a ganhar contornos de premiação internacional, dando, a cada ano que passa, maior visibilidade e projeção para artistas e produções de diversas nacionalidades.

Resta saber quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, responsável pela premiação, dará o braço a torcer e reconhecerá que um filme estrangeiro pode ser (e não raramente é) melhor do que até mesmo os melhores filmes americanos do ano.



Confira o discurso de agradecimento do ator espanhol Javier Bardem:

3 comentários:

Anônimo disse...

oi, Fabinho

muito legal o texto, parabéns pelo blog.

eu, que ainda não tinha visto o vídeo do Bardem, adorei o discurso.

um beijo grande,

s.

Lucas Dantas disse...

wow!!

arrepiei com esse post! de verdade! pq eu como um aficionado [inteligente] do oscar uso esses argumentos na tentativa de defesa da academia dos detratores sem fundamento. é muito fácil criticar a academia por seu comportamento histórico e ignorar as mudanças, mesmo que lentas e sutis, que vêm ocorrendo nela.

como você disse, hollywood vem sendo invadida [no melhor dos sentidos] pelos estrangeiros e isso é esperançoso [estou sendo um pouco exagerado aqui] até mesmo para a sociedade americana como um todos. e no fundo, pensar que fernandinha montenegro e fernandinho meirelles são membros da AMPAS dá um orgulho bom pra qlq cinéfilo.

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog, Fábio!!!
Saudades de NYork e da turma da NYFA...

Beijão,
Ione