O cinema perdeu ontem um dos diretores mais humanistas da contemporaneidade. O talentoso diretor e roteirista inglês, descendente de italianos, Anthony Minghella (vencedor do Oscar, em 1997, pelo épico romântico “O Paciente Inglês”), morreu na madrugada de ontem, aos 54 anos, vítima de uma hemorragia cerebral, durante uma operação para retirada de abscesso do pescoço, em Londres.
Mr. Minghella, que começou escrevendo roteiros para a televisão britânica, teve passagem também pelo teatro e estreou no cinema com o romance fantasma “Truly, Madly, Deeply” (1990), que lhe rendeu logo de primeira o prêmio Bafta de melhor roteiro original e o lançou no mercado cinematográfico.
Em seguida realizou o romance indie “Mr. Wonderful” (1993), estrelado por Matt Dillon, com pouca repercussão. Mas seria em 1996, quando adaptou para as telas de cinema o romance “O Paciente Inglês” (The English Patient), que Minghella atingiria, já no seu terceiro filme, o auge de sua carreira.
Baseado da obra de Michael Ondaatje, este épico anti-belicista, estrelado por Ralph Fiennes, Christin Scott Thomas e Juliette Binoche, é, sem dúvida, o melhor trabalho de Minghella. O filme (ostensivamente subestimado por uma legião de impacientes, ingleses ou não) consiste numa obra primorosa e talvez seja o filme mais genuinamente romântico da história do cinema, com imagens de uma beleza cada vez mais rara e uma história que transpira calor humano.
Aclamado pela crítica, a produção, vencedora de 9 Oscars (incluindo Melhor Filme), rendeu a Minghella, em 1997, o prêmio de melhor diretor, e entrou para a história como o primeiro filme independente (a Miramax se encarregou apenas da distribuição) - e também o primeiro montado em equipamento digital (edição não-linear) - a receber o prêmio máximo da Academia.
O filme se notabilizou ainda por ter possibilitado à atriz francesa Juliette Binoche realizar um de seus melhores trabalhos, consolidando sua ascensão em Hollywood. Foi graças a sua comovente atuação como a sensível enfermeira Hana, que Juliette conquistou não apenas o Oscar de melhor atriz coadjuvante, como também o Urso de Prata de melhor atriz no prestigiado Festival de Berlim.
Já no ano de 1999, Anthony Minghella voltaria a ser elogiado pela crítica, dessa vez pelo ótimo “O Talentoso Ripley” (The Talented Mr. Ripley), estrelado por Matt Damon, Jude Law e Gwyneth Paltrow, e contando ainda com nomes como Cate Blanchett e Phillip Seymour Hoffman, em franca ascensão.
Ao adaptar a obra da escritora americana Patricia Highsmith, Minghella foi além da trama policial e acabou criando uma obra virtuosa e inteligente sobre a recusa da sexualidade por parte de seu atormentado personagem-título, em meio a deslumbrantes paisagens italianas, a vitalidade do jazz e a melancolia do blues.
Sobre o filme, Minghella diz: "Imagino que todos saibamos como é sentir-se excluído. Nós talvez até tenhamos fingido ser alguém que não somos para sermos aceitos ou bem-sucedidos. Essa é uma das coisas que nos fazem seres humanos, e a percepção disto é que nos faz ver Ripley como tal. Essa ligação desconcertante com Tom Ripley, um dos personagens mais incríveis da ficção, e a ansiedade gerada pela familiaridade, pelo menos em pesadelo, do que acontece com ele, me moveu a fazer este filme".
"O Talentoso Ripley" foi indicado a 5 Oscars (incluindo melhor roteiro adaptado para Minghella) e colocou Jude Law definitivamente entre os atores mais talentosos de sua geração.
Em 2003, Minghella transpôs para as telas mais uma adaptação literária: “Cold Mountain”, baseado na obra de Charles Frazier, um romance que tem como pano de fundo a guerra civil norte-americana. O filme teve uma recepção bastante morna pela crítica (apesar dos esforços da poderosa Miramax em tentar vendê-lo como um novo “E o Vento Levou”) e acabou deixando Minghella, e seu filme, fora da disputa ao Oscar.
O fato é que, apesar de sua inegável excelência técnica; e da quantidade expressiva de atores de peso como Nicole Kidman, Jude Law, Renée Zellweger, Phillip Seymour Hoffman, Donald Sutherland e Natalie Portman; a história de amor retratada no filme não chega a convencer plenamente (muitos apontaram a falta de química entre Nicole Kidman e Jude Law como responsável) e está longe de ser tão bem desenvolvida quanto o romance entre os personagens de Ralph Fiennes e Christin Scott Thomas em “O Paciente Inglês”.
Ainda assim, “Cold Mountain” recebeu 7 indicações ao Oscar (a maioria delas técnicas) e consagrou a admirável atuação de Renée Zellweger como melhor do ano na categoria de atriz coadjuvante.
Seu último filme nos cinemas acabou sendo “Invasão de Domicílio” (Breaking and Entering, 2006), que reune dois de seus mais queridos atores do passado, Jude Law e Juliette Binoche, numa trama bastante modesta (dessa vez com roteiro original) para quem já estava habituado aos dramas épicos e grandes adaptações literárias.
Na última década exerceu também a função de produtor executivo em produções como “Iris” (2001), “O Americano Tranquilo” (2002), “A Intérprete” (2005) e o recém indicado ao Oscar “Conduta de Risco” (2007); além de atuar como presidente do Instituto Britânico de Filmes defendendo o fomento à industria britânica de cinema.
No ano anterior, faria ainda sua única aparição como ator num filme, como um entrevistador, no premiado “Desejo e Reparação” (2007).
O diretor acabou de finalizar o episódio piloto da série de televisão “Agência Nº1 de Mulheres Detetives”, cuja estréia está prevista para o próximo domingo no canal BBC. Ele morreu enquanto terminava de realizar um dos curtas do projeto coletivo “New York, I Love You”, em homenagem à big apple, e pretendia realizar este ano mais uma adaptação literária, “The Ninth Life of Luis Drax”, baseado na obra de Liz Jensen.
Dentre as parcerias que Anthony Minghella estabeleceu ao longo de sua carreira, destacam-se as colaborações com o produtor e também diretor Sidney Pollack, o montador Walter Murch, o fotógrafo John Seale, e, em especial (Minghella prezava muito a música em seus filmes), com o músico Gabriel Yared, cuja parceria com o diretor lhe rendeu suas três indicações ao Oscar e o prêmio pela encantadora trilha de “O Paciente Inglês”.
Confira o trailer de "O Paciente Inglês":
3 comentários:
todo mundo fala muito mal de Cold Mountain... mas eu acho desgraçadamente lindo e tocante. Choro litros:D
ahahahahahhahahahahaha
Pedro,
Apesar de considerar Cold Mountain uma obra irregular, também sou grande apreciador do filme em tudo de mais belo que ele tem a oferecer.
Renée Zellweger tem no filme o melhor desempenho de sua carreira, a trilha sonora de Gabriel Yared é belíssima e a cena entre Jude Law e Natalie Portman é uma pequena pérola.
Mas em termos de comoção, sou muito mais O Paciente Inglês, ou mesmo O Talentoso Ripley.
OIioiii Fabio!!
parabéns pelo blog, ta super legal!
ainda n assisti o filme Cold Mountain, mas agora estou segura de que devo.
Lara Freaza.
p.s.: saudades das aulas do caballeros
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