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sábado, 25 de abril de 2009
Felicidade é...
segunda-feira, 30 de março de 2009
Merci, Maurice!
quinta-feira, 19 de março de 2009
Liberdade, Igualdade e Fraternidade
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Quem Quer Ser um Ganhador do Oscar?
Como uma produção modesta, rodada na Índia com câmera digital e atores desconhecidos, conseguiu arrebatar 8 Oscars, incluindo melhor filme?
A) O sucesso do filme é fruto de marketing agressivo.
B) A premiação do filme no Oscar reflete a mudança dos critérios da Academia.
D) É o filme que mais entretém dentre os indicados.
Antes de responder à pergunta, vamos ao contexto: o filme em questão é "Quem Quer Ser Um Milionário?", uma produção britânica do diretor Danny Boyle (do cultuado "Trainspotting") rodada em Mumbai, na Índia, ao custo estimado de 15 milhões de dólares (um valor irrisório se comparado aos 15o milhões - 10 vezes mais - gastos na produção de "O Curioso Caso de Benjamin Button", seu principal concorrente no Oscar deste ano).
O filme recebeu no último domingo nada menos que oito Oscars, incluindo melhor filme e melhor direção, uma quantidade impressionante de prêmios para uma produção independente, inteiramente rodada em câmera digital e com atores desconhecidos do grande público.
Para se ter uma idéia da enorme façanha da produção de Boyle, basta traçarmos um pequeno comparativo com outros ganhadores da Academia, consideradas grandes produções: "A Lista de Schindler", de Steven Spielberg, conquistou 7 Oscars, a mesma quantidade de "Lawrence da Arábia", de David Lean; tanto "Coração Valente" quanto "Gladiador" arrebataram 5 Oscars cada; e "O Poderoso Chefão" - considerado por muitos o melhor filme de todos os tempos - recebeu apenas 3.
"Quem quer ser Um Milionário?" ainda venceu o Globo de Ouro e o Bafta (O equivalente inglês do Oscar) em diversas categorias, incluindo melhor filme.
Mas como explicar tal fenômeno? De onde será que vem tamanho favoritismo? Será que o filme de Boyle é mesmo tão bom assim?
Vejamos as opções de resposta:
A) O sucesso do filme é fruto de marketing agressivo
Não é bem verdade. O filme de Boyle não foi nem mais, nem menos promovido que os demais filmes em competição. Pelo contrário, seu favoritismo fez com que ele fosse alvo de diversas críticas e a produção do filme chegou a ser acusada de explorar a miséria alheia e pagar mal às crianças indianas que participaram do filme. Tudo isso foi desmentido e cuidadosamente contornado pelos produtores do filme, que fizeram questão de convidar as tais crianças para participarem da cerimônia do Oscar (no final das contas, todos subiram ao palco do Kodak Theater na noite da premiação para celebrar o prêmio).
O filme sequer chegou a ser um sucesso de bilheteria nos Estados Unidos. Até a data de divulgação dos indicados ao Oscar "Quem quer Ser Um Milionário?" havia arrecadado pouco mais de 43 milhões de dólares contra mais de 103 milhões arrecados até então por "O Curioso Caso de Benjamin Button", enquanto os blockbusters "Homem de Ferro" e "Batman: O Cavaleiro das Trevas" ultrapassaram a cifra dos 100 milhões de dólares apenas no final de semana de estréia.
Talvez. Afinal, a cada ano que passa o Oscar vem abrindo cada vez mais espaço para produções independentes e estrangeiras (vide postagem "O Oscar em Tempos de Globalização"), mas isso nunca foi sinônimo de consagração, já que a Academia nunca abriu mão de premiar uma produção genuinamente americana - em geral grandes produções - como forma de reafirmar sua posição como a mais poderosa indústria do cinema mundial (ainda que Bollywood, a indústria indiana de cinema, produza mais filmes por ano).
A exemplo disso, podemos citar o caso de "O Tigre o Dragão". A produção made in china dirigida por Ang Lee, que concorria a 10 Oscars e acabou perdendo o prêmio principal para "Gladiador", mesmo sendo notadamente superior à produção americana.
Outro caso mais recente é o do contundente "Babel", produção dirigida pelo mexicano Alejandro González Iñárritu, rodada em quatro países diferentes (e, portanto, falado em quatro idiomas) que teve que se contentar com um único Oscar, de melhor trilha sonora, em 2006. O prêmio de melhor filme foi para "Os Infiltrados", de Martin Scorsese.
C) É o melhor filme do ano
Essa é uma afirmação questionável. A história da ascensão social de um menino pobre de uma favela de Mumbai em um programa de televisão comove, mas não chega a ser contundente como "O Leitor", de Stephen Daldry (ou mesmo "Foi Apenas um Sonho", de Sam Mendes, que sequer foi indicado às principais categorias)
O romance entre Jamal, o jovem protagonista do filme, e sua amiga de infância, Latika, é singelo e encanta o público, mas está longe de ser uma grande história de amor. A crítica social, por sua vez, aparece ao longo de todo o filme, apesar de ocupar um segundo plano.
Já no quesito direção - sem desmerecer o ótimo trabalho de Boyle - o filme não chega a ter o preciosismo nem a riqueza de detalhes orquestradas por David Fincher em "O Curioso Caso de Benjamin Button", ou a soberba direção de atores de Stephen Daldry em "O Leitor".
D) É o filme que mais entretém dentre os indicados
Essa talvez seja a resposta mais apropriada. A estética de videoclipe impressa por Boyle no filme empolga, e muito, o espectador, graças a sua edição ágil e fotografia vertiginosa (nestes dois aspectos "Quem quer Ser..." deve muito ao nosso "Cidade de Deus"). Sem contar a própria construção da história, que propõe um jogo ao espectador. Ao ver o filme, nós nos colocamos no lugar de Jamal e participamos com ele do programa de auditório. Impossível não estabelecer empatia e não torcer por ele.
Quer mais? O filme conta ainda com uma trilha sonora eletrizante (talvez a primeira da história que flerta com a música eletrônica a ganhar um Oscar) e, para encerrar, uma apresentação musical para lá de animadora, no melhor estilo Bollywood ("Jai Ho", canção premiada pela Academia)
Diante de tudo isso, fica fácil compreender por que a Academia se rendeu a "Quem Quer Ser Um Milionário?". Afinal, não esqueçamos que entretenimento sempre foi o principal combustível do cinema americano (depois do dinheiro, é claro).
Em um ano de mudança na política mundial, com o começo da era Obama, nada melhor do que um filme com uma mensagem de otimismo para encher as pessoas de esperança (o outro filme, dentre os indicados, capaz de ocupar esse posto talvez fosse "Milk - A Voz da Igualdade", com sua mensagem de inclusão social em defesa dos direitos das minorias)
Os demais concorrentes se voltam mais para o passado. "Frost/Nixon" procura compreender a mente do ex presidente Nixon, "O Curioso Caso..." aproveita para prestar homenagem aos mortos do furacão Katrina (ocorrido na era Bush), e "O Leitor" relembra os fantasmas deixados pelo Holocausto, e está longe de ser uma diversão.
Então, por eliminação, a resposta (ou pergunta) da Academia para este ano só poderia ser mesmo: "Quem Quer Ser Um Milionário?"
Se lembrarmos que o filme custou cerca de 15 milhões de dólares para ser feito e já arrecadou mais de 100 milhões com o reforço das premiações, fica fácil perceber porque Dany Boyle não tem economizado sorrisos por onde quer que passe.
Confira o trailer do filme:
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
A Persistência da Memória
Essas releituras podem ser extremamente prazerosas ou consistirem em verdadeiros tormentos. Elas podem levar alguns anos, algumas décadas, ou podem nos acompanhar até os últimos dias de nossas vidas.
Em “O Leitor”, o diretor Stephen Daldry (da obra-prima “As Horas”) explora a memória e seus fantasmas ao narrar a história de um romance entre uma misteriosa mulher e um jovem adolescente na Alemanha pós Hitler.
Agradecido, Michael decide voltar à casa de Hanna pouco tempo depois para manifestar sua gratidão. Não demora muito e ambos enveredam por um relacionamento repleto de ambigüidades. O que começa inocentemente, com Hanna cuidando do garoto com um zelo quase maternal, acaba ganhando contornos de erotismo até que Hanna resolve dar um passo adiante e inicia o garoto sexualmente.
A partir de então, os encontros se tornam cada vez mais freqüentes, e a cada nova visita, e nova experiência sexual, o jovem Michael a retribui com a leitura de algum clássico literário. Juntos, os dois compartilham momentos de felicidades. Mas como tudo que é bom dura pouco, Hanna desaparece de repente sem deixar vestígios.
Oito anos depois, Michael é estudante de direito e presencia, como parte de suas atividades acadêmicas, o julgamento de algumas mulheres acusadas de terem cometido crimes de guerra no famigerado campo de concentração de Auschwitz. Dentre as acusadas, está Hanna Schimitz, o primeiro e único amor de sua vida. Agora, Michael é o único capaz de inocentá-la de algumas acusações. Mas as dúvidas quanto às reais motivações de Hanna, e as questões morais que envolvem o caso, pairam sobre ele.
O filme é dirigido com maestria pelo igualmente britânico Stephen Daldry que, depois de conceber o ótimo “Billy Elliot”, e o brilhante “As Horas”, reforça a condição de um dos melhores diretores da atualidade com seu novo e primoroso filme (não por acaso, recebeu indicações de Melhor Direção para o Oscar por todos os três filmes que dirigiu até então)
Daldry, que vem do teatro, demonstra mais uma vez, uma enorme habilidade para contar histórias. O drama de “O Leitor” flui tão bem quanto as águas de um rio. Cada cena se vale muito mais daquilo que não é dito, do que está subentendido, do que daquilo que nos é apresentado. Neste caso, o filme desafia a todos nós, leitores da obra, a ler nas entrelinhas. (mérito também do roteirista David Hare, responsável por adaptar a obra de Bernhard Schlink, e que já havia trabalhado com Daldry na adaptação de “As Horas”)
Outro grande mérito do filme é a ausência de julgamentos morais sobre a personagem de Hanna. Mesmo nas cenas de tribunal, a história mantém uma postura neutra e imparcial no que tange seu caráter, cabendo ao espectador tomar partido ou não e chegar ao seu próprio veredicto.
Mas o grande trunfo de Daldry é, sem sombra de dúvida, a direção de atores. Neste terreno - bastante arenoso para muitos diretores - Daldry tem um desempenho extraordinário. Ele demonstra enorme destreza tanto na direção de atores mais experientes (haja vista as brilhantes atuações de Nicole Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep em “As Horas”) quanto na direção de jovens talentos (vide a inesquecível atuação de Jamie Bell, o eterno “Billy Elliot”, então um jovem estreante).
Kate Winslet certamente conquistará seu tão cobiçado (e merecido) Oscar. Mas é bem verdade que ela foi sabotada ao ser indicada a melhor atriz por “O Leitor” e esquecida por “Foi Apenas um Sonho”, quando ela poderia perfeitamente ter sido indicada pelas duas atuações em categorias diferentes, a exemplo do que ocorreu no Globo de Ouro.Não obstante, sua premiação por "O Leitor" será uma maneira de consagrar seu êxito em ambos os filmes e coroar uma carreira pontuada por ótimas atuações.
O prêmio de melhor atriz para Kate Winslet talvez seja o único prêmio para "O Leitor" na noite do Oscar do próximo dia 22. Mas independente de qualquer premiação, o fato é que "O Leitor" é um filme maduro e pungente, que aborda com grande virtuosismo os fantasmas da memória (no caso do filme, as lembranças que Hanna carrega dos tempos do Holocausto, e as lembranças que Michael carrega de Hanna). Isso sem oferecer ao espectador qualquer catarse ou redenção.
Como diz a filha de uma sobrevivente do Holocausto para um Michael maduro e desamparado, em uma das cenas mais contundentes do filme: "Se você está procurando por catarse, vá ao teatro, leia um livro, mas não o procure em Auschwitz". Essa frase poderia muito bem se aplicar ao filme de Daldry, que justamente por sua ausência de catarse, está destinado a ocupar espaço permanente também em nossas memórias, como aquele bom e velho livro que nunca cansamos de reler na esperança de exorcizar nossos próprios fantasmas.
Confira o trailer do filme:
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
O Sonho Acabou
Dez anos atrás, o então estreante diretor Sam Mendes conquistou platéias do mundo inteiro (e uma enxurrada de prêmios) com a contundente história da família Burnham em "Beleza Americana". O filme, com seu humor corrosivo próprio de um narrador defunto (que o diga o velho Brás Cubas), divertia e emocionava a medida em que ia arremessando pedras no já falido "american way of life".
O filme, que parecia ter tudo para ser um dos principais concorrentes ao Oscar deste ano, apesar de ter sido indicado a 4 Globos de ouro, incluindo melhor filme, direção, e ator - e rendido a Kate Winslet o prêmio de melhor atriz - acabou recebendo apenas três indicações da Academia (melhor direção de arte, figurino e ator coadjuvante).
Confira o trailer do filme:
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Sr. e Sra. Oscar
O casal mais badalado da Hollywood contemporânea, Brad Pitt e Angelina Jolie (de Sr. e Sra. Smith), tem muito que comemorar - e eu não estou me referindo aos 6 filhos do casal. Os dois estão vivendo um momento ímpar em suas carreiras e, apesar de já terem participado da cerimônia do Oscar anteriormente (ele já havia concorrido como melhor ator coadjuvante por "Os 12 Macacos", e ela já ganhou o prêmio de coadjuvante por "Garota, Interrompida") irão disputar pela primeira vez este ano o prêmio nas categorias principais.
A união parece ter dado certo. Desde que começaram a andar juntos, Angelina e Brad têm feito escolhas mais maduras em suas carreiras e encarado personagens cada vez mais desafiadores. Ele, por exemplo, demonstrou bastante competência em filmes como "Babel" e "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford" (este último lhe rendeu o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza). Ela, por sua vez, foi bastante elogiada por sua atuação no drama "O Preço da Coragem", pelo qual concorreu pela primeira vez ao Globo de Ouro de melhor atriz na categoria principal.
Agora ambos têm, pela primeira vez (e numa mesma noite), a chance de serem agraciados com o maior prêmio do cinema americano. Ela por sua tocante atuação no drama "A Troca", do veterano Clint Eastwood; ele por encarnar o personagem título de "O Curioso Caso de Benjamin Button", drama fantástico, de proporções épicas, do diretor David Fincher.
Angelina Jolie em "A Troca"
A história se desenvolve com grande habilidade. O roteiro é muito bem costurado, mantendo a expectativa pelo que está por vir a todo o momento, e nos surpreendendo por diversas vezes. O filme, que participou da mostra competitiva no Festival de Cannes no ano passado, é extremamente bem acabado, e conta com a classe e a sofisticação próprias de um filme do mestre do cinema clássico, Clint Eastwood (que também compôs a trilha do filme). Direção de arte, figurino e fotografia formam uma tríade impecável, retratando com grande precisão e riqueza de detalhes a bucólica Los Angeles das décadas de 20 e 30.
Já Angelina Jolie tem no filme um dos melhores desempenhos de sua carreira. Sua Christine, quase sempre sob a proteção de um chapéu, é frágil, sensível e elegante. Com seus gestos contidos, destoa muito das personagens de ação a que estamos habituados a ver Angelina atuando. Chega a ser quase impossível não ter empatia por sua personagem e, muito menos, não ficar indignado por todo o martírio a que ela é submetida.
Vale destacar ainda a atuação do desconhecido ator Jason Butler Harner, que impressiona na pele de um esquizofrênico assassino (injustamente ignorado pela crítica e premiações). Sua participação no filme, apesar de ser um tanto breve, acrescenta grande intensidade dramática à trama. Sua interpretação chega a lembrar a do célebre ator Robert Mitchum (que encarnou temíveis personagens em clássicos como "Círculo do Medo" e "O Mensageiro do Diabo)
Além do prêmio de Melhor Atriz para Angelina Jolie, o filme concorre também aos Oscars de Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte.
Confira o trailer do filme:
O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button)
A parceria entre o diretor David Fincher e o ator Brad Pitt já rendeu os ótimos "Seven - Os Sete Crimes Capitais" e "Clube da Luta". A nova empreitada de ambos, "O Curioso Caso de Benjamin Button" é um filme fantástico, de proporções épicas, meticulosamente conduzido por Fincher em todos os seus ricos e preciosos detalhes.
O diretor, aclamado pelo grande público, mas constantemente ignorado pelos júris das premiações, recebe finalmente o seu merecido reconhecimento. Indicado para o Oscar na categoria de melhor direção, seu filme é o recordista de indicações na edição deste ano, somando nada menos do que 13 indicações (apenas uma a menos que os recordistas "Ben Hur" e "Titanic")
Toda essa notável aclamação não é para menos. Seu novo trabalho é impecável, uma pérola de filme em que cada elemento prima pela excelência. A história, baseada na obra homônima de F. Scott Fitzgerald, não é apenas curiosa, como sugere o título, mas extremamente bem contada, e perpassa quase um século de existência humana, avançando e retornando no tempo com enorme destreza (neste sentido, lembra "Forrest Gump - O Contador de Histórias).
A reconstituição de época, com a fotografia, direção de arte e figurinos, também não é nada menos que excepcional. A trilha sonora, composta pelo francês Alexandre Desplat, assim como a maioria das trilhas compostas por ele, é ao mesmo tempo elegante, instigante e mágica. E a maquiagem (talvez o elemento mais notável do filme e o único prêmio que parece garantido) é simplesmente sensacional. É por meio da maquiagem (e uma boa dose de efeitos visuaus) que eles conseguem não apenas fazer com que Brad Pitt tenha a aparência de um idoso de 80 anos, como, surpreendentemente, rejuvenecê-lo, a ponto de fazê-lo parecer um adolescente outra vez.
Brad Pitt em "O Curioso Caso de Benjamin Button"
Mas afinal, o que há de tão curioso no filme que o faz tão especial? Falemos da história: Brad Pitt interpreta Benjamin Button, uma pessoa portadora de um enigmático distúrbio biológico que o faz nascer com a aparência de um velho de 80 anos. À medida em que o velho bebê vai crescendo, ele vai rejuvenescendo, contrariando todas as previsões de que o pequeno Button morreria precocemente.
Sua fascinante história começa no final da primeira guerra (quando Button nasce) e segue até quase os dias de hoje - a história é narrada por uma paciente moribunda, deitada no leito de um hospital, no ano de 2005, quando o terrível furacão Katrina devastou a cidade de New Orleans (o filme presta, aliás, uma bela homenagem aos mortos do incidente).
Ao longo de sua existência, bem como todos nós, Benjamin Button conhece uma grande diversidade de pessoas. Mas enquanto os outros envelhecem e morrem, Benjamin sente-se cada vez mais revigorado e tem que aprender a lidar com a infortúnio de ver os entes queridos morrerem enquanto ele sobrevive, fruto da sua condição (neste sentido, a história nos remete a um outro filme: "À Espera de Um Milagre").
De todas as pessoas que Benjamin conhece ao longo de sua vida, as duas mais marcantes, à exceção de sua mãe adotiva, são sem dúvida, seus dois amores. A primeira delas, uma mulher casada e solitária (bela atuação de Tilda Swinton) que Button conhece enquanto vive um tempo na Rússia. A segunda, seu grande amor Daisy (a sempre ótima Cate Blanchett, que já havia contracenado com Pitt em "Babel"), que Benjamin conhece quando criança, apaixona-se à primeira vista, e que o acompanhará por toda sua vida.
Brad Pitt demonstra bastante maturidade dramática e repete em "O Curioso Caso..." uma linha de atuação mais contida que vem dando certo em seus últimos filmes, como "Babel" e "O Assassinato de Jesse James...". É bem verdade que a maquiagem ajuda, e muito, a composição do personagem. Mas justiça seja feita, há um empenho grande por parte de Brad, tanto em termos de trabalho de voz quanto corporal, para conferir verossimilhança ao personagem em cada estágio de sua vida.
"O Curioso Caso de Benjamin Button" é um filme bastante poético, que dá margem a várias reflexões filosóficas a respeito da vida. Temas como o envelhecimento, a morte e o amor são recorrentes no filme. Mas é o tempo o principal objeto de análise do filme (é emblemática, por exemplo, a presença de um relógio cujo ponteiro gira em sentido anti-horário). Por falar em tempo, se existe uma ressalva que merece ser feita em relação a obra de David Fincher, talvez seja quanto a sua duração. O filme, que tem proporções épicas, é um tanto longo demais, assim como os já citados "Forrest Gump" e "A Espera de Um Milagre". Mas nada que diminua o seu enorme brilhantismo. Afinal, ao assiti-lo, tudo que queremos saber é onde essa fantástica história vai parar, não importa o quanto tenhamos que esperar pelos ponteiros do relógio.
Confira o trailer do filme: